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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pesquisadores buscam pistas de doenças cardíacas no DNA de famílias

Rick Del Sontro se mantém magro e presta atenção à sua dieta, mesmo assim, tem uma grave doença cardíaca, como muitos na sua família
Brendan Hoffman/Reprodução/Thenewyorktimes
Rick Del Sontro se mantém magro e presta atenção à sua dieta,
 mesmo assim, tem uma grave doença cardíaca, como muitos na sua família
Doenças cardíacas prematuras são habituais na família de Rick Del Sontro. Toda vez que ele saía para correr, tinha medo de que seu coração o traísse. Então, ele se mantinha esbelto, evitava carne vermelha, não fumava e fazia exercícios intensamente, chegando a completar um triatlo Ironman.
 
Mas, quando sua irmã, com apenas 47 anos, descobriu ter uma doença cardíaca avançada, Del Sontro, então com 43, com colesterol e pressão arterial baixos, foi a um cardiologista. Um raio-X das suas artérias revelou a verdade. Como seu avô, sua mãe, seus quatro irmãos e suas duas irmãs, ele tinha uma doença cardíaca.
 
Agora, ele e sua família estendida foram incluídos em um projeto federal de pesquisas que está usando o sequenciamento genético para localizar fatores que intensificam o risco de doença cardíaca para além dos suspeitos de sempre: colesterol alto, hipertensão, tabagismo e diabetes.
 
"Eu havia comprado o sonho: basta fazer as coisas certas e comer as coisas certas que você ficará bem", afirmou o empresário.
 
O objetivo é ver se a genética pode explicar por que doenças cardíacas atacam pessoas aparentemente saudáveis. Uma família com a de Del Sontro pode ser a pedra de Roseta para a doença cardíaca. A propensão das suas artérias a se entupir talvez revele forças que fazem a mesma coisa para milhões de outras pessoas.
 
"Ainda não sabemos quantos caminhos há para a doença cardíaca", disse Leslie Biesecker, que dirige o estudo do qual Del Sontro participa. "Esse é o poder da genética. Tentar dissecar isso."
 
Os pesquisadores, há muito tempo, sabem que um histórico familiar de mortes precoces por doença cardíaca dobra o risco para uma pessoa, independentemente de outros fatores. O histórico familiar é definido como sendo ter pai ou um irmão que recebeu diagnostico de doença cardíaca antes dos 55 anos, ou mãe ou uma irmã antes dos 65.
 
Os cientistas estão estudando a composição genética de cada membro da família Del Sontro em busca de mutações reveladoras ou aberrações nos 3 bilhões de compostos químicos que formam o DNA humano.
 
O controle das doenças cardiovasculares é uma das maiores histórias de sucesso da medicina.
 
Nos últimos 45 anos, a taxa de mortalidade por doenças do coração diminuiu 60% em relação ao seu auge, na década de 1960.
 
Mas os médicos baseiam-se principalmente nos fatores de risco descobertos décadas atrás.
 
As doenças cardíacas ainda são a principal causa de mortes no mundo --29% do total, segundo dados de 2004 da Organização Mundial da Saúde. Além disso, muitas pessoas atingidas ainda jovens não tinham fatores de risco óbvios.
 
Os pesquisadores se perguntam o que está passando despercebido.
 
Del Sontro, que mora em Washington, fazia vista grossa aos problemas cardíacos familiares até que sua irmã, Robin Ashwood, descobriu ser portadora. Há uns seis anos, ela estava correndo na esteira quando seus braços começaram a doer. Quando ela acabou o exercício, a dor passou, mas voltou mais tarde, quando ela fazia compras com a irmã mais nova, Tina Del Sontro, que a convenceu a ir para um pronto-socorro.
 
O histórico de doença cardíaca dessa família é terrível. O avô teve um ataque cardíaco grave aos 35 anos. A mãe começou a ter fortes dores no peito aos 55 e, no final da vida, "entornava comprimidos de nitroglicerina como se fossem Tic Tacs", segundo Del Sontro. Ela passou por três cirurgias de peito aberto e morreu na mesa de operação, aos 69.
 
Então Ashwood foi a um pronto-socorro próximo. Sua pressão arterial estava alta. Ela ficou apavorada. No entanto, um eletrocardiograma apresentou resultado normal.
 
Mas ela lembrou que o eletrocardiograma da sua mãe também era bom. No dia seguinte, ligou para o seu cardiologista. "Ele me ignorou", conta. "Ele me disse que provavelmente era um problema estomacal."
 
Ainda temerosa, ela começou a ligar para cardiologistas, oferecendo-se a pagar por uma consulta caso um médico se dispusesse a examinar seu prontuário médico e seu histórico familiar.
 
O médico Leslie Fleischer, de Pensacola (na Flórida), onde Ashwood morava, aceitou. Ele inseriu na paciente um cateter por um vaso sanguíneo da virilha até o coração e injetou tinta nas artérias coronárias para torná-las visíveis no raio-X. Ele viu uma vasta doença cardíaca ali --uma artéria coronária estava quase completamente bloqueada.
 
"Faço isso há 40 anos, então não me surpreendi", disse Fleischer. "Só fiquei triste."
 
Ele inseriu um "stent" --um pequeno tubo de malha metálica-- numa artéria que estava 90% bloqueada e alertou Ashwood de que seus irmãos deveriam fazer exames. Tina Del Sontro, então com 38 anos, foi a primeira. Ela também corria o risco de ter um ataque cardíaco em breve, segundo os médicos.
 
Então Rick foi a um clínico geral que lhe disse que não havia motivo de preocupação. Mas seu irmão Peter, na época com 37 anos, foi a um cardiologista e dias depois se submeteu a uma cirurgia de "bypass" coronário duplo.
 
Abalado, Rick decidiu que também deveria consultar um cardiologista. Edward Bodurian, em Chevy Chase (em Maryland), inicialmente sugeriu uma tomografia para procurar calcificações nas suas artérias, o que indicou potenciais problemas. Então Bodurian realizou o mesmo cateterismo que havia detectado a doença de Ashwood. Esse exame revelou as más notícias sobre suas artérias entupidas.
 
O projeto genético de Biesecker tinha um objetivo específico: recrutar mil pessoas, um quarto delas sem doença cardíaca e um quarto com formas branda, moderada e severa.
 
Ele esperava que, ao comparar os genes de pessoas com níveis diferentes de gravidade, fosse possível apontar alterações genéticas que revelassem por que as doenças cardíacas ocorrem.
 
A família Del Sontro permitiu a descoberta de um novo caminho genético para a doença cardíaca. Agora, oito parentes aderiram ao estudo. Biesecker procura outros.
 
Os pesquisadores suspeitam que a doença dessa família decorra de um gene com mutação."Nosso principal trabalho é descobrir o gene", disse Biesecker. É uma busca que pode levar anos, sem garantia de sucesso.
 
Enquanto isso, Del Sontro se prepara para o pior. Tem seguro de vida e seguro para cuidados médicos prolongados. "Fico esperando o dia em que terei falta de ar", disse ele.
 
Hoje com 50 anos, Del Sontro tem total consciência de que a causa da sua doença é um mistério, mas, para não correr o risco de piorá-la, continua a comer direito e se exercitar.
 
Sua doença lança uma sombra sobre a sua família inteira.
 
Em um jantar na casa de tijolos amarelos da família, a mulher dele, Pura, admitiu se preocupar, mas disse: "Não falamos muito a respeito".
 
Sua filha Siena, 9, disse ter medo de ter herdado os problemas cardíacos do pai. Ele lhe garantiu que, até ela ficar adulta, os cientistas certamente já vão ter descoberto um tratamento. "Espero que não doa", respondeu ela.
 
Fonte The New York Times/Folhaonline

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