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sábado, 18 de maio de 2013

Anabolizantes e outras drogas: misturas irracionais para 'segurar a onda'

Anabolizantes e outras drogas: misturas irracionais para 'segurar a onda' Raquel Heidrich/
Foto: Raquel Heidrich
Produto da apreensão de comprimidos e ampolas de hormônios
 comercializados ilegalmente em SC
Uso de substâncias proibidas acarreta graves problemas de saúde física e mental
 
Para combater efeitos colaterais de anabolizantes e suplementos, os obcecados pelo corpo perfeito tomam até remédios para câncer feminino. Entre as mulheres, a moda é o chip de hormônios. Nem os efeitos colaterais são capazes de desencorajar os mais obcecados. Ao contrário. Para combater os desagradáveis (e perigosos) efeitos colaterais do uso indiscriminado de anabolizantes e suplementos, os 'marombeiros' adotam atitudes cada vez mais arriscadas, associando outros remédios às 'bombas'. Alguns, que preferem se manter anônimos, revelaram que se automedicam com hormônios femininos e, até, com remédios usados no combate ao câncer de mama.

Muitos consumidores assíduos de estimulantes, como a efedrina, também fazem uso diário de aspirina para afinar o sangue, que fica espesso devido à substância, cujo uso em suplementos é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A popularidade de tais associações é tão grande que a indústria já oferta compostos prontos, como o ECA, um coquetel de efedrina, cafeína e aspirina, vendido ilegalmente no país. Especialistas consideram a prática criminosa, se recomendada por profissionais de saúde, e irracional, se adotada por conta própria.

— É um absurdo total — sentencia Ruy Lyra, presidente da Federação Latino-Americana de Endocrinologia.

Ele ressalta que o uso de anabolizantes com testosterona e GH (um tipo de hormônio do crescimento) já traz riscos, porque sobrecarrega rins e fígado, além de desencadear problemas cardíacos. Com a associação de hormônios femininos, o quadro tende a se agravar. Para Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, a combinação de remédios – chamada na gíria marombeira de terapia pós-ciclo (depois da aplicação das bombas) – é uma prática que beira a insanidade.

— Esse pessoal precisa de aconselhamento médico, psicológico e psiquiátrico.

Gerente de Medicamentos e Correlatos da Divisão de Vigilância Sanitária do Distrito Federal, a farmacêutica Luciana Zanetti faz coro às advertências. Ela ressalta que é comum aparecer, entre os produtos apreendidos pela fiscalização, remédios que são usados de forma associada, como aspirina e hipertensivos.

— Para esses, não há muito o que fazer, porque, geralmente, são medicamentos de uso autorizado. Mas o estrago para quem utiliza pode ser muito grande. O consumo de um item puxa o outro, que demanda outro. No fim, a pessoa está tomando um coquetel — diz.

Até a aparentemente inofensiva aspirina – muito usada de forma contínua por quem tem problemas no coração – pode ser mortal. O ácido acetilsalicílico, que é o princípio ativo de remédio, altera o processo de coagulação.

— Se a pessoa que está usando essa substância sofre um acidente ou precisa fazer uma cirurgia de última hora, pode morrer em consequência de uma hemorragia — exemplifica.

Enquanto falta discernimento entre muitos dos consumidores de produtos associados à atividade física, sobram receitas para combater os efeitos colaterais das substâncias. Basta uma busca na internet para encontrar sites que vendem óleos como protetores hepáticos que, supostamente, minimizam o impacto dos esteroides no fígado. Um deles chega a ser apresentado como 'o único protetor hepático comprovado no uso de anabólicos', segundo texto de apresentação do site anabolizantesonline.

Médicos e especialistas não têm divergências sobre o tema: suplementos devem ser usados com orientação profissional.

— Excesso de aminoácido dá problema renal. Carboidrato provoca picos de glicose, levando o pâncreas a produzir insulina. Chega uma hora que ele pode se cansar e, aí, vem o risco de diabetes. Não são produtos vilões, mas precisam ser bem utilizados — destaca Luciana Zanetti.

A creatina e a proteína, completa Jomar Souza, são metabolizadas pelo fígado e pelos rins.

— Em casos de sobrecarga, pode haver até necessidade de diálise — alerta o especialista.

Caso do cantor de axé Netinho ganhou repercussão nacional
A suspeita de uso de anabolizantes pelo cantor de axé Netinho ganhou repercussão nacional no domingo passado quando o programa Fantástico relatou o drama do cantor na UTI, onde esteve entre a vida e a morte. Netinho já apresenta melhoras, mas a reportagem mostrou também que foram encontradas várias receitas de médicos de fora da Bahia prescrevendo a ele medicamentos para estimular o crescimento muscular, como hormônios anabolizantes.

— Várias substâncias que são utilizadas para a fisicultura. E eventualmente algumas que são utilizadas também supostamente para reverter ou deter o envelhecimento — analisa o médico Jorge Bastos, ouvido pelo programa.

De acordo com o cardiologista especializado em medicina do esporte Artur Haddad Herdy, da clínica Cardiosport, de Florianópolis, há muitos médicos que não são sérios e prescrevem anabolizantes e outros medicamentos controlados, pois há muito dinheiro envolvido nisso.

— Os esteroides são derivados sintéticos do hormônio masculino testosterona e possuem vários usos clínicos, como estimular o crescimento e a restauração de tecidos em idosos e debilitados. Mas o seu uso indiscriminado traz graves problemas de saúde, por causar um grande desequilíbrio hormonal no organismo. Há aumento de força e de massa a curto prazo, mas ocorre o aumento do volume do coração, em muitos casos impotência sexual e até ginecomastia, que é o crescimento de seios em homens — alerta.

O cardiologista classifica em três grupos distintos os consumidores destes 'aditivos' à dieta alimentar que, se bem balanceada, já deveria contemplar tudo o que o organismo precisa em termos de nutrientes. Do mais arriscado para o que apresenta menos risco, temos os esteroides anabolizantes, os estimulantes e os suplementos alimentares.

O estimulante mais famoso é a efedrina, substância proibida tanto no Brasil pela Anvisa, quanto nos Estados Unidos para uso como suplementação. Ela é definida como uma amina simpaticomimética similar aos derivados sintéticos da anfetamina, muito utilizada em medicamentos para emagrecer, pois faz com que o metabolismo acelere. Por causar uma forte dependência, a droga foi proibida para este uso.

Há pouco tempo a efedrina era comumente encontrada na composição de termogênicos (queimadores de gordura), porém, foi substituída por outros componentes, já que seu uso continuado causava complicações como perda de apetite, insônia, alucinações, tremores, alterações de humor, tontura, vertigem, taquicardia, hipertensão e até levar à morte.

— A efedrina atua no sistema nervoso central de forma similar à cocaína, eleva os batimentos cardíacos, a pressão arterial e pode causar arritmia. Podemos encontrar esta substância facilmente nas farmácias na forma de fármacos como o Franol® e o Marax®. A Anvisa liberou a venda para usuários com receita médica, porém sabemos que não é bem assim que funciona — denuncia Herdy.

Na avaliação do médico do esporte, com a proibição da efedrina, houve migração dos usuários para suplementos com grande quantidade de cafeína, também estimulantes. Nesta categoria dos suplementos alimentares estão os produtos que apresentam menor risco de uso, e que são largamente difundidos. Eles são feitos em sua maioria com base em proteínas e aminoácidos. Um desses compostos que causou grande polêmica foi a creatina, que teve sua proibição determinada pela Anvisa em 2005, mas seu uso foi liberado em 2010 por não haverem estudos conclusivos sobre seus efeitos adversos. Composta por três aminoácidos (arginina, glicina e metionina) é produzida naturalmente pelo nosso organismo para fornecer a energia necessária aos músculos.

A creatina é produzida pelo fígado e, em seguida, levada pelo sangue para as células musculares, onde fica armazenada para ser 'queimada' durante a atividade física. É inegável que torna a musculatura mais resistente, por isso ela é tão popular, especialmente entre corredores, ciclistas e nadadores. Os seus adeptos defendem o uso na forma de suplementação, pois para conseguir a dose média diária recomendada (4g) é preciso consumir 1Kg de carne vermelha. Mesmo com a liberação da venda, a Anvisa não recomenda o uso desses suplementos por praticantes de exercícios físicos para recreação, estética e promoção da saúde, apenas para atletas de alto rendimento.

O campo dos suplementos alimentares é muito farto, e os produtos têm nomes bem sugestivos como Mega Men, Mega Mass 4000 e Women's Ultra Mega. Dentre os compostos mais vendidos, o posto de número um vai para o whey protein, que é um concentrado de proteína do soro do leite. Também é muito popular a albumina, hiperproteico que contém todos os aminoácidos essenciais. Os concentrados de cafeína ganham destaque, como o Therma Pro Hardcore, feito com extrato de guaraná sendo um potente termogênico.

Há os produtos chamados de última geração, como o Mega Pack NO3 Nitro Shock. Ele contém arginina e óxido nítrico, e age como um hemodilatador, aumentando a passagem de sangue pelas veias e consequentemente a força. É um tipo de 'potência' similar à causada pelo citrato de sildenafil, o princípio ativo do Viagra®, que amplia a ação vasodilatadora do óxido nítrico no pênis.

 — São muitas coisas novas, muitas vezes não controladas pelo FDA (Food and Drug Administration, órgão regulador norte-americano). O pessoal está consumindo sem sequer saber se há algum efeito colateral — conclui Artur Herdy.

Colaborou Marco Túlio Brüning | Diário Catarinense
 
CORREIO BRAZILIENSE/DA PRESS

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